Essa noite se improvisa

Sou um entusiasta da improvisação livre. Acho que essa linguagem musical permite um diálogo franco entre diferentes formas de se produzir som. Através dela, já vi músicos derrubarem as barreiras entre gêneros e ritmos, entre o que é ruído e o que é música.

De forma rigorosamente moderna, os improvisadores nos convidam para um jeito novo de se escutar música. Lá, a conversa é mais importante que o monólogo; o silêncio é um fenômeno auditivo da mesma grandeza que a seqüência de sons.

Nos últimos anos, tive a honra de conviver com músicos e apreciadores desse tipo de música. É um ambiente acolhedor que está cada vez mais animado. No ano passado, por exemplo, fui a apresentações de instrumentistas como Wadada Leo Smith, Hans Koch, Peter Brotzmann, Marcio Mattos, Roscoe Mitchell, Famoudou Don Moye. Experiências muito fortes. Fora o tanto em que aprendi com os músicos e apreciadores sobre música, arte e vida.

Aqui em São Paulo, sempre dá para escutar gente de primeira, como o suíço Thomas Rohrer (um dos maiores militantes da free music no Brasil), Yedo Gibson, Antonio Panda Gianfratti e o grupo Abaetetuba, Miguel Barella, Maurício Takara, o cornetista de Chicago Rob Mazurek. Menciono só isso, mas é pouco. Tem muito mais gente fazendo coisa boa. Fora que o meio é muito rico, procura se integrar com outras manifestações artísticas e fomenta conversas de primeira.

Esse pessoal tem ajudado a música mais radical do Brasil a melhorar de forma mais acelerada. Aliás, estou muito otimista em relação a isso. Com uma programação como a dessa semana não dá para não ficar.

Na última terça-feira, o quarteto Rohrer-Mazurek-Takara-Barella tocou na Livraria da Esquina. Hoje, eles voltam a se apresentar no Café Elétrico, Rua Francisco Estácio Fortes, 153, no Pacaembu. O ingresso é só três reais.

Amanhã acontecerá a primeira apresentação do Conjunto Felicidade. Nunca os vi ao vivo, mas pude escutar a gravação de um de seus primeiros ensaios. Eles tinham mais cara de banda de rock, mas longe de qualquer convencionalismo. O show será na Casases, na Avenida Pompéia, 1467. A entrada é sete reais.

Não tenho dúvida, vai ser bonito de ver.

casases1

-Datas:

16.01 (sexta-feira) às 19hs.
Local: Café Elétrico – R. Francisco Estácio Fortes, 153 – Pacaembu
R$3,00

Links Relacionados:
http://www.mtakara.com
http://www.robmazurek.com
http://www.myspace.com/thomasrorher
http://www.sacimusic.com.br
http://www.openfield.com
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FELICIDADE

Primeiro show do quarteto formado por Mauricio Takara (bateria), Chris Mack “James Orr Complex” (violão e voz), Bernardo Pacheco (baixo) e Thomas Rohrer (rabeca e sax).

-Datas:
Dia: 17.01 às 16:30h.
Local: Casases – Av. Pompéia, 1467
R$7,00

Links Relacionados:
http://www.mtakara.com
http://www.myspace.com/hellma
http://www.myspace.com/thomasrohrer
http://www.myspace.com/thejamesorrcompleè

12 comentários sobre “Essa noite se improvisa

  1. Legal redescobrir o teu blog tb Gilberto. Quanto tempo, meu chapa! Aparece lá no show do pessoal, vai valer a pena.

  2. salve Tiago,
    como vc sabe, sou arquiteto, não sou músico, então dê o devido desconto. Bem, não conheço muita coisa, mas curto muito free-music em geral, e olha, poucas coisas me convenceram até hoje como manfred schoof e alexander schlippenbach no disco voices de 1966, é uma quebradeira só mas parece que os caras estão lendo partitura de tão preciso e sintonizado. De resto, acho muito preguiçosa a maior parte da produção jazzística, free ou tradicional. Não há invenção nem criação, mas pura repetição, tipo conversa de comadres histéricas autômatas. Muitas vezes, na hora de escolher um disco para escutar, acabo preferindo música erudita mesmo, serialismo e derivados microtonais, a satisfação é garantida. Sempre achei um ótimo tema de debate a esculachada no jazz que o Adorno faz na “Filosofia da nova Música”. Vou reler…

  3. Querido Rafael, improviso é pra poucos mesmo. Não é todo mundo que tem repertório e energia para tocar coisas tão diferentes sempre. Um grande baterista de Chicago, confessou ao meu irmão que o repertório dele tinha acabado. Deixou as linguagens mais ligadas à música nova e hoje toca em um ótimo grupo de rock.

    Agora, acho que em relação a nova música o improviso tem mais permissividade. É mais aberto e deixa se contaminar por outras produções musicais. Agora, não posso falar isso com certeza, não conheço para ir tão longe. Mas é muito mais comum a conversa ir da improvisação para a música erudita do que o contrário. Mas não custa dizer que o Cornelius Cardew tocou no AMM e que o Gavin Bryars tocou improvisação livre.

    Assim como o Braxton, Roscoe Mitchell, Sun Ra, Keith Rowe e Barry Guy compões na maior categoria. Em relação ao jazz, acho que tem muita coisa boa ainda. Outro improvisador fera faz belos discos de Jazz: Misha Mengelberg, bem como o genial Heny Threadgill, William Parker e afins. Aliás, Parker lançou um disco lindo onde só toca Curtis Mayfield. esse trânsito é muito comum e muito legal. O Evan Parker já tocou música de câmara com o pessoal do Arditti Quartet (que aliás, gravou um disco todo só com composições do Fred Frith), rock com o Frith, Robert Wyatt e Jah Wobble e por aí vai. O MAtthew Shipp toca com todo mundo. Faz som com o Schlippenbach, com o Antipop consortium e com o Fred Anderson. È um pianista gigante. O Phil Minton, gravou com o Koch-Shutz-Studer, um disco só com composições do Jimmy Hendrix. Canta barulho e canções revolucionárias que faz com o Steve Beresford. Fora isso, ainda toca com o Luc-ex (ex The Ex)no grupo Four Walls. Por fim, o Steve Beresford faz de tudo. Música tonal, rege a London Improvisers Orchestra, tem um duo importante com o Han Bennink, canção tradicional, rock barulhento, tocou com as Slits, com o Flying Lizards e é um dos maiores nomes da música contemporânea.

    Além disso, a que categoria pertencem músicos como Fred Frith, Otomo Yoshihide, Iva Bittova, James Blood Ulmer, Marcio Mattos, Haco e Ikue Mori?

    Nessa falta de preconceitos, o The Ex ganha de todo mundo. Toca rock, toca com o saxofonista etíope Getatchew Merkuria e ainda faz um som com o ICP, Tom Cora, Iva Bittova e etc.
    Enfim, esse pessoal é muito variado e muitos são gente de cabeça boa. Que não está muito preocupada com o que é ponta e o que é retaguarda, mas em colocar as coisas para conversar. seja Jazz, seja rock, nova música ou o que for. essa disposição que parece faltar, na minha opinião, no artigo do Adorno. Um exemplo musical disso é o MEV, Musica Eletronica Viva. era um pessoal da pesada da música erudita de vanguarda: Gordon Mumma, Robert ashley e tals, conversavam com outras tradições numa boa e o trabalho mais recente deles só ganhou com isso. ali´s, o último trabalho editado do ashley é uma das coisas que eu tenho mais escutado: Robert Ashley – Concrete: http://www.robertashley.org/productions/concrete-lamama.htm

    Falo isso com o maior respeito. O Adorno é um autor que me interessa muito e que é muito mal-comentado fora dos círculos especializados. Mas sua obsesão com a idéia de identidade como uma anestesia intelectual ficou tão ortodoxa que acho que ele não consegue ver prazer no que é reconhecível e nem em um belo mais convencional, identificável.

    Curiosamente, na Dialética Negativa ele acha que existe um belo impronunciável na natureza, coisa que as vezes o derek Bailey fala em entrevistas. è engraçado, mas as vezes, em gente muito diferente encontramos consonancias inusitadas. Eu me interesso por aqueles malucos alunos do Pierre Boulez do mesmo jeito que me interesso pelo Fall. Entendo menos os primeiros, mas quero aprender. Aliás, essa coisa de microtons é algo que eu não entendei mesmo. Mas é assim, vivendo e aprendendo.

    Muito obrigado pelo comentário rafa, muito bom
    abração

  4. falei só sobre o artigo “Sobre o Jazz”, do Adorno. Não lembro do que ele falava sobre Jazz no Filosofia da nova música. Aliás, nem lembrava que ele falava disso, lembrava da oposição entre Stravinsky e Schoenberg. Mas no “Prismas“, esse artigo é central. Sei que o Adorno escreveu muito mais coisas sobre o Jazz, mas só conheço esse artigo. Ele é potente, é um texto que eu sempre me debato muito.

  5. Engraçado, só conheço o comentário na “filosofia da nova música”, que preciso reler como eu disse. Eita, vamos promover uns chasinhos musicais aqui em bh…
    bração!

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